A importância das adaptações dos conteúdos pedagógicos nas aulas on-line, principalmente na Educação Inclusiva

Em março de 2020 vivenciamos mudanças bruscas de rotina. O avanço devastador e o efeito Covid-19 exigiu do mundo todo o confinamento no contexto doméstico como uma das formas mais eficazes de enfrentamento à pandemia.

A pandemia da Covid 19 provocou a necessidade de isolamento e distanciamento sociais, trazendo novos e grandes desafios com repercussões em todos os aspectos: familiar, escolar, econômico, social, profissional, de saúde física e emocional.

A convivência próxima por longos períodos de tempo, a ausência da rotina das aulas escolares presenciais, a privação do esporte, lazer e contatos familiares; a vida profissional dos pais realizada de forma remota dentro de casa, o remanejamento do ambiente físico para acomodar todas as demandas de cada membro da família, além da sobrecarga de tarefas domésticas exigiram de todos a compreensão, a empatia, a organização, a administração do tempo, o desenvolvimento de novas habilidades e uma atenção especial ao equilíbrio emocional.

Nossas  crianças estão sem  frequentar a escola, praticamente durante a maior parte do ano letivo de 2020, e ainda sem previsão de retorno em 2021, e veem sofrendo  grandes perdas no processo de aprendizagem formal, sendo privadas da  socialização tão essencial com seus  pares, além da exposição ao alto nível de exigência atencional das aulas on-line.

Consideramos que é no ambiente escolar que ocorrem  aprendizados significativos para o desenvolvimento infantil como: experiências lúdicas compartilhadas,  interações proximais face a face, cooperação, convivência com as diferenças, compartilhamento de decisões, enfrentamento de desafios, negociação de conflitos, adiamento de gratificações,  exercício de controle de impulsos, além do direcionamento pedagógico especializado dos professores, entre outras habilidades.8

Nesse cenário tão complexo,  escola, pais, professores, profissionais da educação e da saúde  se mostram ainda muito aflitos à adaptação e transformação da comunidade escolar. Uma reflexão se faz necessária: como ficam os alunos que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem e/ou  deficiência?

Diante dessa realidade, outras reflexões  também são importantes:

Aos pais:

  • O que pensamos e sentimos diante da situação pedagógica do meu (minha) filho (a)?
  • Nesse momento, quais são as nossas expectativas em relação à escola que escolhi?
  • Qual a nossa responsabilidade diante dessa realidade?
  • Qual impacto dessa situação no(a) meu (minha) filho(a)?
  • Com quem podemos conversar sobre essas questões para me orientar ou me ajudar a pensar melhor?

À comunidade escolar:

  • Quais as expectativas pedagógicas diante desse cenário?
  • Quais são as nossas responsabilidades?
  • Como estamos nos preparando para observar, acolher, orientar e intervir cada aluno de forma individualizada?
  • A configuração das aulas remotas, atividades em sala virtual, atividades de casa e forma de abordagem têm sido adequadas?
  • Qual o meu papel, enquanto professor (a) diante dessa situação?
  • Temos propostas de ações pedagógicas para cada aluno e apoio aos pais?

Fortalecer a sinergia entre família, escola e profissionais, cultivar um olhar de compreensão, colaboração, solidariedade e ainda estabelecer um diálogo claro, contínuo e respeitoso se tornam detalhes fundamentais nesse momento.

Observamos que de modo geral, os alunos que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem, de comportamento ou deficiência  são os mais afetados com a aprendizagem dos conteúdos pedagógicos em ambiente virtual.

Mesmo antes da pandemia, a maioria de  nossas crianças  já estavam moldadas ao ambiente virtual através de vídeo games, tablets, computadores, celulares, enfim, já estavam mergulhadas na infância digital. Assim, na atual circunstância,  podemos extrair  algo de muito positivo na educação digital.

Algumas ponderações importantes para  amenizar o impacto das aulas em ambiente virtual:

  • O Contato constante com os pais para verificar as condições da família (disponibilidade de internet, computador, internet, tablet, rotina da família), além da possibilidade  da família para dar suporte aos filhos;  identificar os sentimentos das crianças  à nova modalidade, suas as dificuldades com a quebra de rotina. Buscar as percepções da família quanto ao nível de assimilação da criança;
  • Elaboração de plano de ação para aulas on-line, ou seja, adaptar/ rever o planejamento da sala de aula, levando em consideração todas as variáveis: pais/ família  como suporte, sala de aula em casa, atividades digitais, motivação e tempo de concentração dos alunos, etc. Lembrando que, aulas on-line são muito diferentes de aulas presenciais (o planejamento pedagógico precisa ser adaptado). É importante personalizar o plano de ação pedagógica para cada aluno, considerando suas particularidades: potencialidade e dificuldades.
  • As estratégias devem ser comuns aos alunos, porém o acesso do professor ao aluno deve ser individualizado, lembrando que cada aluno tem uma condição específica de aprendizagem, assim, as estratégias precisam ser alteradas e adequadas de acordo com as necessidades de cada aluno; por isso é de extrema importância conhecer as condições ambientais e comportamentais de cada um.
  • É essencial a orientação aos pais de como proceder no acompanhamento das atividades escolares digitais.
  • Para as crianças que fazem uso de medicação prescrita pelo neurologista ou psiquiatra, é fundamental a continuidade no tratamento medicamentoso durante as aulas on-line.
  • Nas aulas on-line as instruções devem ser claras aos alunos. Sugere-se que, no início da aula, o professor estabeleça claramente o objetivo e o tempo para a atividade proposta on-line (o tempo para realização das atividades deve ser monitorado pelo professor). Assim como descrever para os pais quais objetivos das atividades para possível continuidade dos objetivos e conteúdos pedagógicos no ambiente familiar.
  • O conteúdo pedagógico deve ser objetivo e contextualizado. Não há funcionalidade se não houver contextualização, ou seja, não adianta conteúdos soltos sem interligações nas vivências atuais dos alunos.
  • Verifique com a família os recursos/ brinquedos/ jogos/ materiais pedagógicos disponíveis em casa, e os explore, associando-os aos conteúdos pedagógicos. Nesse momento a Criatividade será o diferencial tanto da família como dos professores.
  • Identifique o hiperfoco atual de cada aluno, bem como as brincadeiras e atividades preferidas e explore-as nos conteúdos pedagógicos (essa vivência é riquíssima nas diversas disciplinas).  Oriente à família.
  • No momento atual, os alunos  necessitam do mínimo de  interação social ainda que de forma virtual, favorecendo a participação ativa em tempo real tanto com os professores como com os colegas de sala (as aulas síncronas são mais eficazes). As aulas gravadas podem  prejudicar a possibilidade de interação e participação dos alunos,  o que consequentemente,  desencadear ainda mais resistência, angústia e  sofrimento emocional para  alunos, para os pais e professores.
  • É muito importante que o professor reserve um momento para o contato individual com  cada aluno no final de cada aula, ainda que para se despedir verbalizando o nome do aluno.
  • Nas leituras, sugere-se ao professor adequar o tom e o ritmo de voz. Evitando voz suave com ritmo lento. É interessante criar movimentos corporais para despertar a atenção durante a leitura, bem como envolver os alunos nas leituras. Professor(a): abuse da criatividade para manter a atenção dos alunos.
  • Alunos com dificuldades escolares podem precisar de atendimento individualizado (além do horário da aula on-line) com as adaptações das atividades e ajustes no tempo para realização; é  essencial respeitar o ritmo de cada aluno e seu tempo de aprendizagem.
  • Sempre que possível, valorize o auxílio dos pais nesse processo. No momento, o pais são aliados ativos no processo ensino-aprendizagem.
  • Privilegie as atividades de caráter lúdico  e digital à explorar as atividades digitais à atividades mais atrativas à ativam mais os circuitos neuronais à captam mais a atenção do aluno.
  • Favoreça o saber fazer: Lembrando sempre que: MENOS É MAIS (é altamente prejudicial o bombardeio de exercícios e tarefas). É melhor a consolidação  que a quantidade de conhecimento.
  • Realize com frequência o feedback, tanto com os pais como com os alunos. Envie questionários curtos, simples e objetivos. Avalie com os pais as mudanças de comportamentos do aluno com a  rotina on-line. Essa estratégia é o termômetro  para adequação das atividades.
  • Crie momentos de compartilhamentos virtuais entre os alunos, estimule-os a pesquisar na internet e relatar (sem compromisso) assuntos interessantes.
  • Estabeleça objetivos diários e semanais.
 Nas atividades e avaliações

 

Importante:

  • Utilize fonte denominada   Arial ou Verdana, Comic Sans ou Open Dyslexic com tamanho 14 e com espaçamento de 1,5.
  • Dê preferência por questões objetivas e diretas; com imagens nítidas e gráficos para facilitar a compreensão do conteúdo solicitado.
  • Quando não for possível perguntas diretas e objetivas, realce (grifando) as palavras chaves para facilitar a compreensão da questão;
  • As imagens nos exercícios devem estar sempre à esquerda da folha. Direção do movimento da leitura (esquerda para direita);
  • Avaliar com os profissionais de intervenções terapêuticas a necessidade de realizar provas com conteúdos pedagógicos
  • Importante oferecer atividades  adaptadas aos alunos que apresentam algum tipo de dificuldades ou deficiência,  lembrando que os pais Não são profissionais de educação, portanto,  não foram treinados para transmitir os conteúdos pedagógicos.
  • É fundamental que os professores façam orientações aos pais  de como proceder nas avaliações, principalmente quanto a leitura das questões.
  • Em todas as disciplinas, dê preferência por textos curtos e objetivos, os textos devem ser enumerados de 05 em 05 linhas, a fim de orientar e flexibilizar curso do pensamento, colocando no final de cada questão onde o aluno poderá encontrar a resposta (Exemplo: entre as linhas 5 e 10).
  • Evite questões que façam comparações entre 02 textos. O conteúdo pedagógico pode ser abordado em apenas um texto.
  • Não solicite respostas pela negativa. Exemplo: Assinale a alternativa errada (isso obriga a rotação da abstração, o que é totalmente desnecessário nesse momento para o aluno com dificuldades).
  • Nas produções textuais, auxilie o aluno disponibilizando listas de palavras que podem ser utilizadas na produção do texto, ajudando-o no desenvolvimento do pensamento.
  • Leve sempre em consideração as orientações descritas no relatório de avaliação neuropsicológica.
  • No retorno à sala de aula (presencial), priorize a avaliação do desenvolvimento de cada aluno, através de um rastreio pedagógico eficiente, revisando todo o conteúdo transmitido durante as aulas on-line.

É o momento do professor repensar a postura em sala de aula, na mudança para o professor digital. O benefício digital é transformador na nossa realidade. Aproveite e use as tecnologias como aliada à experiência educacional.

 

Juntos, com SuperAções  transformando a realidade.

 

Ana Cristina S. Afonso

Psicóloga CRP43119-4

Especialização em Neuropsicologia Aplicada à Neurologia Infantil (Unicamp)

Especialização em Transtornos de Aprendizagem (ABD)

 

Referências:

RODRIGUES, J. V. S. Possíveis impactos causados pela pandemia da COVID-19 na saúde mental de crianças e o papel da mãe neste cenário. Centro Universitário Metropolitano da Amazônia, AM, 2020. Disponível em  <https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/6533/5244>

FRAIM, l [et al.]. O efeito covid-19 e a transformação da comunidade escolar. 1ª ed. São Paulo: FDT, 2020.

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